segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quotidianos que se fazem de travessias





Cerca de 19 milhões de pessoas apanham anualmente o barco que liga as duas margens do rio Tejo. Chegam cedo ao cais de embarque. Aguardam afoitas o abrir da cancela. O relógio marca o compasso. Tique-taque-tique-taque.
Já instaladas, entregam-se momentaneamente à descontracção. Durante instantes é permitido fechar os olhos. Sentir o sol na cara. Alguns põem a leitura em dia, outros deixam-se simplesmente ir. Nada há a fazer a não ser esperar que o barco atraque, sabendo já que, quando este chegar, recomeça a correria. É preciso fazer o passadiço. Sair da estação. Chegar ao trabalho a horas, picar o ponto. Ao barco já só se voltará ao entardecer. A acalmia fugaz do rio fica adiada por horas. À espera do regresso. Depois de um dia de trabalho, o ambiente a bordo é outro. Trocam-se mensagens, fala-se com a família, planeia-se o jantar, pensa-se na roupa que ainda está por passar. Amanhã, o barco voltará a ser pisado pelos mesmos sapatos. Vez e vez sem conta. 19 milhões de pessoas atravessam o rio Tejo de barco por ano. 38 milhões de pés.

Texto Sandra Gonçalves
Fotografias Zito Colaço

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