sábado, 2 de janeiro de 2010

A Mãe





A MÃE ( onde já não vai esse Gorky ).

Em qualquer outro canto do mundo seria apenas louca . A clássica insana do lugarejo onde vivo, imune às larachas jocosas dos habitantes, trocistas uns, outros apenas ignorando a minha presença, como a um monumento de menor importância, em decrépita ruína. Não aqui, entre os meus iguais, que sabem que sou apenas uma mãe que procura o filho. Carrego a dor que, aqui ou nos antípodas, é igual. Mas a minha história não sabe o mundo por ignorar, também, as suas causas.
Sahid, sangue do meu, está disposto á derráma-lo, por nós dois, ao lado dos rebeldes que aguardam, algures, pela luta que nos trará, a todos, o direito á nossa terra. Como mãe, trago comigo a dor de não saber do meu maior bocado. O maior luto do mundo, definição com a qual só uma mãe concordará. Como Saharaui, sei que trava uma luta que só aos valentes cabe. Admiro-o. A ele. Que é outra forma de amor. Como admirei seu pai, mais ainda, no dia em que vi seu corpo prostrado, sob este sol que castiga, a alma levada pela marcha verde. Não sangrou. Mas as suas dores, tomou-as o filho, que é meu. Que não sei onde anda.

Texto Nuno Miguel Dias
Fotografias Zito Colaço

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